A Transição do Judaísmo para o
Cristianismo
Vamos
olhar algumas passagens que indicam a transição do judaísmo para o
Cristianismo. Antes de tudo veja Lucas 5:36-39, “E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço dum vestido
novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não
condiz com o velho. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o
vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão;
mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se
conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz:
Melhor é o velho”. O Senhor indicou aqui que havia uma nova ordem chegando,
e que não era para ser misturada com a velha, de outro modo, as duas se estragariam.
O ponto principal a ser entendido nesta parábola é que a nova ordem não era uma
extensão da velha ordem do judaísmo, mas uma coisa inteiramente nova, que requereria uma configuração
inteiramente nova. O versículo 39
mostra que levaria algum tempo para que aqueles acostumados com a antiga ordem
apreciassem a nova ordem. Sendo afetuosamente ligado a essa ordem exterior de
adoração no judaísmo, que atrai os sentidos naturais, uma pessoa não a deixaria
facilmente.
Em
João 4:21-24 temos um pouco mais: “Disse-lhe
Jesus: Mulher, crê-Me que a hora
vem, em que nem neste monte nem
em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o
que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que
os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o
Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os
que O adoram O adorem em espírito e em verdade”. O Senhor menciona aqui três
coisas significativas que marcariam a mudança da antiga ordem de adoração do judaísmo
para a nova ordem no Cristianismo:
- Haveria um novo lugar de adoração que não era “neste monte” (Gerizim), nem em “Jerusalém”. Hebreus 8:2, 9:11, 23-24 e 10:19-22 indicam que é no santuário celestial, na presença direta de Deus – embora não seja mencionado aqui. E assim, cessaria um centro geográfico terreno de adoração.
- Houve uma nova revelação da Pessoa adorada. No judaísmo Deus era adorado como Jeová, mas agora no Cristianismo Ele deve ser adorado como “o Pai” do Senhor Jesus Cristo. Esta é uma relação mais íntima.
- Haveria um novo caráter de adoração. A adoração no judaísmo era terrena e tangível, realizado por meio de um sistema de rituais e cerimônias, mas a nova ordem para aproximar-se de Deus, no Cristianismo, seria uma coisa puramente espiritual. Crentes poderiam agora adorar o Pai em “espírito” e de acordo com a nova revelação da “verdade”.
No
Cristianismo oferecemos “sacrifícios
espirituais” que contam com ajuda da presença permanente do Espírito Santo
(1 Pe 2:5; Fp 3:3) em contraste às “ordenanças
carnais” da ordem judaica (Hb 9:10). E fazemos isto na presença direta de
Deus (Hb 10:19). Esta é uma bênção que Israel não teve. Como os Cristãos devem
adorar “em espírito e em verdade”,
podemos nos sentar silenciosamente em uma cadeira e aí poder ser produzido em
nossa alma e espírito, verdadeiro louvor a Deus, o Pai, pelo Espírito Santo.
Isto é verdadeira adoração celestial. No céu não haverá necessidade de coisas
mecânicas externas na adoração a Deus, como no judaísmo. O Cristianismo não tem
necessidade dessas coisas, porque podemos agora adorar a Deus pelo Espírito
nesta maneira celestial (Fp 3:3 – JND).
A
adoração judaica apela para os sentidos, sendo um meio terreno e sensorial de
aproximação a Deus. É estimulado por:
- Visão – isto é, a grandeza do templo (1 Rs 10:4-5; Mc 13:1; Lc 21:5).
- Olfato – isto é, a queima de incenso que produz uma atmosfera envolvente (Êx 30:34-38).
- Paladar – isto é, comer sacrifícios (Dt 14:26).
- Audição – isto é, lindas músicas produzidas pela orquestra e acompanhadas pelo coral (1 Cr 25:1, 3, 6-7)
- Tato – isto é, participação nas ofertas de uma forma física, isto é, dançando e levantando as mãos (2 Sm 6:13-14; 1 Rs 8:22).
É
significativo não encontrarmos em nenhum lugar no livro de Atos ou nas
epístolas, Cristãos adorando o Senhor usando rituais e meios mecânicos
exteriores, como instrumentos musicais. Os únicos dois instrumentos que os
Cristãos são encontrados usando para adoração na Escritura são o seu “coração” (Co 3:16; Ef 5:19) e seus “lábios” (Hb 13:15).
O
esboço do evangelho de Mateus indica esta mesma transição dispensacional do judaísmo
ao Cristianismo. Isto é visto nos atos simbólicos e no ensino do Senhor por
parábolas. Este evangelho foi escrito especialmente aos judeus tendo essas
coisas em vista, porque eles naturalmente teriam dificuldades com esta mudança
nos caminhos de Deus. O evangelho registra a culpa dos judeus rejeitando seu
Messias. O Espírito de Deus, que conhecia os caminhos de Deus desde a
eternidade, previu a rejeição de Cristo pelo povo e escreveu o evangelho com
uma ordem dispensacional em mente. As muitas figuras a nós apresentadas no
evangelho mostram que quando o povo rejeitasse o Senhor, Deus deixaria a nação
de lado por um tempo, e alcançaria os gentios e os traria à bênção na Igreja.
Isto não aconteceu durante a vida do Senhor, mas o teor do evangelho indica que
haveria um desvio nos caminhos de Deus para o Cristianismo.
No capítulo 4
o Senhor saiu para anunciar à nação que Ele estabeleceria “o reino dos céus” em poder, e traria as grandes bênçãos prometidas
pelos profetas. Nos capítulos 5-7, Ele ensinou os padrões morais do reino em
Seu “Sermão da Montanha”. Os
capítulos 8-9 apresentam doze incidentes onde o Senhor demonstra “os poderes do mundo vindouro” (Hb
6:5), confirmando Seu poder para trazer o reino como prometido pelos profetas.
No capítulo 10 o Senhor enviou os apóstolos para pregar o evangelho do reino e
chamar a nação para receber seu Rei. Nos próximos dois capítulos (11-12), o
Espírito de Deus dá o resultado da mensagem: ambos, João Batista e o Senhor são
rejeitados pelo povo comum na Galileia (cap. 11) e pelos líderes da nação Judeia
(cap. 12). Os últimos (os líderes) cometeram o pecado imperdoável de blasfêmia
contra o Espírito Santo, selando a condenação da nação.
Sendo
assim, o Senhor fez diversas ações simbólicas nos capítulos 12 e 13 para indicar
que Sua ligação com a nação seria rompida e ela seria temporariamente colocada
de lado no trato governamental de Deus. Este colocar de lado historicamente
aconteceu em Atos 7 quando os líderes da nação (o Sinédrio) apedrejaram Estevão
como resposta formal a respeito de terem Cristo reinando sobre eles (Lc 19:14).
Isto é indicado no evangelho de Mateus pelas seguintes coisas:
Primeiro,
houve dois incidentes onde o Senhor e Seus discípulos aparentemente profanaram
o Sábado comendo milho e curando uma pessoa (Mt 12:1-13). Já que a nação O
rejeitou, o pacto que o Senhor tinha com ela foi quebrado. Consequentemente, o
Sábado, que era o selo da relação (Êx 31:12-17), já não tinha suas
reivindicações. As ações do Senhor no Sábado demonstraram esse fato.
Assim,
daquele momento em diante o Senhor não mais levantaria Sua voz nas ruas para
pregar as boas novas do reino (Mt 12:14-21). Isto porque o reino em seu poder e
glória não seria mais oferecido à nação. Daí em diante, não é mais dito de o
reino estar “próximo”, como era o
caso dos capítulos anteriores. De acordo com isso, o Senhor ordenou aos
discípulos que “não O dessem a conhecer”
daí em diante (Mt 12:16 – TB, 16:20, 17:9).
Além disso, o
Senhor Se recusou a dar ao povo mais sinais do Seu Messiado (Mt 12:38-45). Ele
disse que a incredulidade deles era tão profunda que, consequentemente, se
manifestaria por si própria no ato de a nação receber o anticristo, e este
último estado seria pior que o primeiro (uma idolatria pior do que a que
antecedeu seu cativeiro babilônico).
O
Senhor então passou a recusar o chamado de Sua mãe e de Seus irmãos. Isto
também foi uma ação simbólica que indicou o rompimento de Seus laços naturais
com a nação (Mt 12:46-50).
Finalmente
o Senhor “saiu da casa” onde Ele
esteve ensinando o povo (Mt 13:1). Isto de novo simbolizava o rompimento com a
nação.
Então
nos capítulos 12-16, o Senhor Se retirou da multidão do povo (caps. 12:15,
13:1, 13:53, 14:13, 15:21, 15:29, 16:4). Isto novamente é indicativo do fato de
que Ele Se dissociaria da nação.
Com
o Senhor sendo rejeitado “o reino dos
céus”, como apresentado pelos profetas do Velho Testamento, seria
postergado. Mas Deus nunca volta atrás em Suas promessas; portanto, o
cumprimento literal da bênção do reino a Israel seria suspenso até mais tarde.
Quando
a nação rejeitou o Senhor como seu Messias, Deus começou a trabalhar numa nova
direção – com os gentios. Este movimento nos caminhos de Deus é novamente
retratado pelas ações simbólicas do Senhor. Após sair da casa, Ele sentou-se “junto ao mar” (Mt 13:1). O mar na
Escritura fala dos gentios (Sl 65:7; Is 17:12; Ap 17:15; At 10:6). Isto indica
que Deus visitaria “os gentios para
tomar dentre eles um povo para o Seu nome” (At 15:14 – AIBB). Ele faria
isso por meio do chamado do evangelho da graça de Deus. Este novo início está
registrado no livro de Atos, do capítulo 8 ao 28, e ainda está acontecendo
hoje.
O
novo início nos caminhos de Deus é prefigurado no ministério do Senhor no
evangelho de Mateus de quatro maneiras:
- Primeiramente o Senhor indicou que haveria uma nova maneira de trabalho divino – semeando a semente da Palavra de Deus no coração dos homens, e assim produzindo para Deus uma nova colheita que daria frutos (Mt 13:1-9, 18-23). Ele não procuraria mais frutos na lavoura de Deus conforme a velha ordem.
- Em segundo, o Senhor adotou um novo método de ensinar – “por parábolas” (Mt 13:13, 34-35). Nos primeiros doze capítulos Ele não usou parábolas para ensinar o povo. Ele falou claramente com eles. Mas agora, por causa da dureza do coração dos judeus incrédulos, a verdade seria escondida deles por causa dos relacionamentos atuais de Deus. Aos apóstolos e àqueles com coração crente foram dadas as interpretações.
- Terceiro, o Senhor disse a Seus discípulos que haveria um novo significado para o reino dos céus. Haveria agora um lado místico para o reino (Mt 13:11). Os “mistérios” relativos ao reino seriam explicados a eles nos capítulos seguintes.
- Quarto, haveria novas revelações em conexão com a nova fase de mistério do reino, na qual certas coisas, que foram mantidas “ocultas” desde a fundação do mundo, seriam reveladas (Mt 13:35).
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