segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

A Transição do Judaísmo para o Cristianismo


A Transição do Judaísmo para o Cristianismo

Vamos olhar algumas passagens que indicam a transição do judaísmo para o Cristianismo. Antes de tudo veja Lucas 5:36-39, “E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço dum vestido novo para o coser em vestido velho, pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho. E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho”. O Senhor indicou aqui que havia uma nova ordem chegando, e que não era para ser misturada com a velha, de outro modo, as duas se estragariam. O ponto principal a ser entendido nesta parábola é que a nova ordem não era uma extensão da velha ordem do judaísmo, mas uma coisa inteiramente nova, que requereria uma configuração inteiramente nova. O versículo 39 mostra que levaria algum tempo para que aqueles acostumados com a antiga ordem apreciassem a nova ordem. Sendo afetuosamente ligado a essa ordem exterior de adoração no judaísmo, que atrai os sentidos naturais, uma pessoa não a deixaria facilmente.
Em João 4:21-24 temos um pouco mais: “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade. O Senhor menciona aqui três coisas significativas que marcariam a mudança da antiga ordem de adoração do judaísmo para a nova ordem no Cristianismo:
  • Haveria um novo lugar de adoração que não era “neste monte” (Gerizim), nem em “Jerusalém”. Hebreus 8:2, 9:11, 23-24 e 10:19-22 indicam que é no santuário celestial, na presença direta de Deus – embora não seja mencionado aqui. E assim, cessaria um centro geográfico terreno de adoração.
  • Houve uma nova revelação da Pessoa adorada. No judaísmo Deus era adorado como Jeová, mas agora no Cristianismo Ele deve ser adorado como “o Pai” do Senhor Jesus Cristo. Esta é uma relação mais íntima.
  • Haveria um novo caráter de adoração. A adoração no judaísmo era terrena e tangível, realizado por meio de um sistema de rituais e cerimônias, mas a nova ordem para aproximar-se de Deus, no Cristianismo, seria uma coisa puramente espiritual. Crentes poderiam agora adorar o Pai em “espírito” e de acordo com a nova revelação da “verdade”.

No Cristianismo oferecemos “sacrifícios espirituais” que contam com ajuda da presença permanente do Espírito Santo (1 Pe 2:5; Fp 3:3) em contraste às “ordenanças carnais” da ordem judaica (Hb 9:10). E fazemos isto na presença direta de Deus (Hb 10:19). Esta é uma bênção que Israel não teve. Como os Cristãos devem adorar “em espírito e em verdade”, podemos nos sentar silenciosamente em uma cadeira e aí poder ser produzido em nossa alma e espírito, verdadeiro louvor a Deus, o Pai, pelo Espírito Santo. Isto é verdadeira adoração celestial. No céu não haverá necessidade de coisas mecânicas externas na adoração a Deus, como no judaísmo. O Cristianismo não tem necessidade dessas coisas, porque podemos agora adorar a Deus pelo Espírito nesta maneira celestial (Fp 3:3 – JND).
A adoração judaica apela para os sentidos, sendo um meio terreno e sensorial de aproximação a Deus. É estimulado por:
  • Visão – isto é, a grandeza do templo (1 Rs 10:4-5; Mc 13:1; Lc 21:5).
  • Olfato – isto é, a queima de incenso que produz uma atmosfera envolvente (Êx 30:34-38).
  • Paladar – isto é, comer sacrifícios (Dt 14:26).
  • Audição – isto é, lindas músicas produzidas pela orquestra e acompanhadas pelo coral (1 Cr 25:1, 3, 6-7)
  • Tato – isto é, participação nas ofertas de uma forma física, isto é, dançando e levantando as mãos (2 Sm 6:13-14; 1 Rs 8:22). 

É significativo não encontrarmos em nenhum lugar no livro de Atos ou nas epístolas, Cristãos adorando o Senhor usando rituais e meios mecânicos exteriores, como instrumentos musicais. Os únicos dois instrumentos que os Cristãos são encontrados usando para adoração na Escritura são o seu “coração” (Co 3:16; Ef 5:19) e seus “lábios” (Hb 13:15).
O esboço do evangelho de Mateus indica esta mesma transição dispensacional do judaísmo ao Cristianismo. Isto é visto nos atos simbólicos e no ensino do Senhor por parábolas. Este evangelho foi escrito especialmente aos judeus tendo essas coisas em vista, porque eles naturalmente teriam dificuldades com esta mudança nos caminhos de Deus. O evangelho registra a culpa dos judeus rejeitando seu Messias. O Espírito de Deus, que conhecia os caminhos de Deus desde a eternidade, previu a rejeição de Cristo pelo povo e escreveu o evangelho com uma ordem dispensacional em mente. As muitas figuras a nós apresentadas no evangelho mostram que quando o povo rejeitasse o Senhor, Deus deixaria a nação de lado por um tempo, e alcançaria os gentios e os traria à bênção na Igreja. Isto não aconteceu durante a vida do Senhor, mas o teor do evangelho indica que haveria um desvio nos caminhos de Deus para o Cristianismo.
No capítulo 4 o Senhor saiu para anunciar à nação que Ele estabeleceria “o reino dos céus” em poder, e traria as grandes bênçãos prometidas pelos profetas. Nos capítulos 5-7, Ele ensinou os padrões morais do reino em Seu “Sermão da Montanha”. Os capítulos 8-9 apresentam doze incidentes onde o Senhor demonstra “os poderes do mundo vindouro” (Hb 6:5), confirmando Seu poder para trazer o reino como prometido pelos profetas. No capítulo 10 o Senhor enviou os apóstolos para pregar o evangelho do reino e chamar a nação para receber seu Rei. Nos próximos dois capítulos (11-12), o Espírito de Deus dá o resultado da mensagem: ambos, João Batista e o Senhor são rejeitados pelo povo comum na Galileia (cap. 11) e pelos líderes da nação Judeia (cap. 12). Os últimos (os líderes) cometeram o pecado imperdoável de blasfêmia contra o Espírito Santo, selando a condenação da nação.
Sendo assim, o Senhor fez diversas ações simbólicas nos capítulos 12 e 13 para indicar que Sua ligação com a nação seria rompida e ela seria temporariamente colocada de lado no trato governamental de Deus. Este colocar de lado historicamente aconteceu em Atos 7 quando os líderes da nação (o Sinédrio) apedrejaram Estevão como resposta formal a respeito de terem Cristo reinando sobre eles (Lc 19:14). Isto é indicado no evangelho de Mateus pelas seguintes coisas:
Primeiro, houve dois incidentes onde o Senhor e Seus discípulos aparentemente profanaram o Sábado comendo milho e curando uma pessoa (Mt 12:1-13). Já que a nação O rejeitou, o pacto que o Senhor tinha com ela foi quebrado. Consequentemente, o Sábado, que era o selo da relação (Êx 31:12-17), já não tinha suas reivindicações. As ações do Senhor no Sábado demonstraram esse fato.
Assim, daquele momento em diante o Senhor não mais levantaria Sua voz nas ruas para pregar as boas novas do reino (Mt 12:14-21). Isto porque o reino em seu poder e glória não seria mais oferecido à nação. Daí em diante, não é mais dito de o reino estar “próximo”, como era o caso dos capítulos anteriores. De acordo com isso, o Senhor ordenou aos discípulos que “não O dessem a conhecer” daí em diante (Mt 12:16 – TB, 16:20, 17:9).
Além disso, o Senhor Se recusou a dar ao povo mais sinais do Seu Messiado (Mt 12:38-45). Ele disse que a incredulidade deles era tão profunda que, consequentemente, se manifestaria por si própria no ato de a nação receber o anticristo, e este último estado seria pior que o primeiro (uma idolatria pior do que a que antecedeu seu cativeiro babilônico).
O Senhor então passou a recusar o chamado de Sua mãe e de Seus irmãos. Isto também foi uma ação simbólica que indicou o rompimento de Seus laços naturais com a nação (Mt 12:46-50).
Finalmente o Senhor “saiu da casa” onde Ele esteve ensinando o povo (Mt 13:1). Isto de novo simbolizava o rompimento com a nação.
Então nos capítulos 12-16, o Senhor Se retirou da multidão do povo (caps. 12:15, 13:1, 13:53, 14:13, 15:21, 15:29, 16:4). Isto novamente é indicativo do fato de que Ele Se dissociaria da nação.
Com o Senhor sendo rejeitado “o reino dos céus”, como apresentado pelos profetas do Velho Testamento, seria postergado. Mas Deus nunca volta atrás em Suas promessas; portanto, o cumprimento literal da bênção do reino a Israel seria suspenso até mais tarde.
Quando a nação rejeitou o Senhor como seu Messias, Deus começou a trabalhar numa nova direção – com os gentios. Este movimento nos caminhos de Deus é novamente retratado pelas ações simbólicas do Senhor. Após sair da casa, Ele sentou-se “junto ao mar” (Mt 13:1). O mar na Escritura fala dos gentios (Sl 65:7; Is 17:12; Ap 17:15; At 10:6). Isto indica que Deus visitaria “os gentios para tomar dentre eles um povo para o Seu nome” (At 15:14 – AIBB). Ele faria isso por meio do chamado do evangelho da graça de Deus. Este novo início está registrado no livro de Atos, do capítulo 8 ao 28, e ainda está acontecendo hoje.
O novo início nos caminhos de Deus é prefigurado no ministério do Senhor no evangelho de Mateus de quatro maneiras:
  • Primeiramente o Senhor indicou que haveria uma nova maneira de trabalho divino – semeando a semente da Palavra de Deus no coração dos homens, e assim produzindo para Deus uma nova colheita que daria frutos (Mt 13:1-9, 18-23). Ele não procuraria mais frutos na lavoura de Deus conforme a velha ordem.
  • Em segundo, o Senhor adotou um novo método de ensinar“por parábolas” (Mt 13:13, 34-35). Nos primeiros doze capítulos Ele não usou parábolas para ensinar o povo. Ele falou claramente com eles. Mas agora, por causa da dureza do coração dos judeus incrédulos, a verdade seria escondida deles por causa dos relacionamentos atuais de Deus. Aos apóstolos e àqueles com coração crente foram dadas as interpretações.
  • Terceiro, o Senhor disse a Seus discípulos que haveria um novo significado para o reino dos céus. Haveria agora um lado místico para o reino (Mt 13:11). Os mistérios relativos ao reino seriam explicados a eles nos capítulos seguintes.
  • Quarto, haveria novas revelações em conexão com a nova fase de mistério do reino, na qual certas coisas, que foram mantidas “ocultas” desde a fundação do mundo, seriam reveladas (Mt 13:35).

 É significativo que, afastando-Se do povo publicamente, o Senhor esperou até que alcançasse a periferia mais distante da terra – “as partes de Cesareia de Felipe” – para apresentar a verdade da Igreja (Mt 16:13-20). Isto, novamente, aponta para o fato de que Ele queria que a Igreja fosse algo distinto de Israel. É claro então, pelo inteiro teor desses capítulos no evangelho de Mateus, que Deus pretende que a Igreja seja inteiramente separada e distinta do judaísmo.

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