O Testemunho Remanescente na Profissão Cristã
A palavra “remanescente” não é encontrada
somente no Velho Testamento, como alguns imaginaram; é encontrada também no
Novo Testamento em conexão com o testemunho Cristão (Ap 2:24).
Apocalipse 2 e 3 nos dá um traçado da história
profética da Igreja desde seus primeiros dias, logo após os apóstolos, até seus
últimos dias. Seguindo as coisas como são retratadas nessas cartas às sete
igrejas, vemos uma curva descendente no testemunho Cristão, até que finalmente,
o ponto sem volta é atingido, e, dali em diante, o Senhor age sob o princípio
do testemunho remanescente.
Em Éfeso,
aprendemos que “o anjo da igreja” (os líderes responsáveis) julgou
corretamente tudo o que era inconsistente com o Senhor. Diz que eles não podiam
“sofrer [ou suportar] os maus”. Mas tristemente, o coração
deles não estava com o Senhor nisto (Ap 2:2-4).
Em Esmirna, qualquer declive
estava temporariamente suspenso pelas grandes perseguições que vieram sobre a
Igreja. A severidade da prova trouxe-os de volta ao Senhor.
Em Pérgamo, quando os tempos
da grande perseguição terminaram, “o
anjo da igreja”, começa a tolerar alguns que seguem “a doutrina de Balaão”, que é mundanismo e idolatria. O anjo também
tolerou os que tinham “a doutrina dos
Nicolaítas”, que é o clericalismo (Veja: Ordenação no capítulo 3). O anjo não foi acusado de seguir essas doutrinas, mas
o Senhor encontrou falta neles porque não denunciaram o mal, como fez o anjo em
Éfeso.
Em Tiatira,
uma condição pior prevaleceu. “O anjo da
igreja” permitiu que a mesma má doutrina e prática que foi sustentada por alguns em Pérgamo fosse
agora ensinada! (compare Ap 2:14 com
2:20). O que começou com alguns sustentando má doutrina terminou com muitos
ensinando má doutrina. Isto mostra que se o tolerar o mal não é julgado, isso
levará a que ele seja propagado. Em Tiatira, o ensino desse mal se desenvolveu
num sistema de coisas chamado de “Jezabel”,
o que certamente corresponde ao catolicismo. Na Idade Média, esse sistema
iníquo tinha um controle tão tirânico sobre toda a Igreja que, com sua força e
organização, controlou o anjo! Aqueles que tinham o lugar de responsabilidade
falharam em lidar com isso quando podiam, e agora se tornou num monstro que os
controlava! (compare At 27:14-15). O “euro-aquilão”
– um grande vento Mediterrâneo – arrebatou o navio [a nau], e os marinheiros
não podiam fazer nada, senão “deixando ela ir” (JND). A figura de “Jezabel” é apropriadamente usada aqui
porque essa mulher não só levou a idolatria para Israel formalmente, mas ela
também controlou e manipulou seu marido, o rei Acabe.
Sendo assim o estado público
da Igreja, onde não restou poder algum para tratar com o mal, o Senhor separou
um remanescente dizendo, “Mas Eu vos
digo a vós, e aos restantes [remanescentes]...” (Ap 2:24) e a partir de então deixou
a multidão ir. Aqui temos a palavra “remanescente”
usada em conexão com o testemunho Cristão. A partir desse momento, o Senhor
trabalharia com um remanescente que ouviria o que o Espírito diz às igrejas. É
significativo que Ele não colocou sobre eles “a carga [encargo]” de pôr em ordem a confusão no
testemunho Cristão numa tentativa de trazê-lo de volta ao que foi uma vez. Em
vez disso, Ele dirigiu o foco deles em direção à Sua vinda dizendo “retende-o até que Eu venha” (Ap 2:25).
Daquele
ponto em diante uma mudança marcante é vista nos caminhos do Senhor com a
Igreja. Até este ponto, a voz do Espírito era para toda a Igreja. “O que o Espírito diz às igrejas” precedia a promessa ao que vencer nas
três primeiras igrejas. Nas três primeiras igrejas a recompensa ao que vencer
foi definida diante de toda a Igreja, porque o Senhor ainda estava tratando com
ela, em sua totalidade, para trazê-la, se possível, de volta ao ponto de
partida. Mas deste ponto para frente a ordem é inversa. O chamado para “ouvir o que o Espírito diz às igrejas”
segue a promessa ao que vencer. Esta
é a ordem nas quatro últimas igrejas. Isto quer dizer que o que o Espírito tem
a dizer não mais é dado à multidão, porque não se espera que a multidão ouça;
somente um remanescente vai ouvir e responder. O que Paulo predisse a Timóteo
de que as massas “não suportariam a sã doutrina”
(TB), aconteceu (2 Tm 4:2-4) e, portanto, o Espírito não mais está falando ao
corpo, como um todo, sobre a verdade da Igreja.
Comentando
esta mudança, J. N. Darby disse que o corpo, como um todo, é “deixado de lado”
deste ponto em diante porque a massa pública na profissão Cristã é tratada como
sendo incapaz de ouvir e se arrepender. W. Kelly disse, “O Senhor desde então
coloca a promessa (ao que vencer) antes, e isto porque é vão esperar que a
Igreja, como um todo, receba isto... apenas um remanescente vence, e a promessa
é para eles; quanto aos outros, está tudo acabado”. Como resultado, todo o
pensamento de recuperar a Igreja como um todo é abandonado porque ela atingiu
um ponto onde não há recuperação. Tendo isso em mente, o Espírito de Deus não
está falando necessariamente a cada pessoa na Cristandade, hoje em dia, a respeito
da verdade da reunião. Ele está deixando a maioria seguir seu próprio caminho
com suas afiliações eclesiásticas.
Trabalhando
com um testemunho remanescente desde aquele tempo, o Senhor restaurou a verdade
que se perdeu por meio do descuido da Igreja nos séculos passados. No entanto,
Ele não achou oportuno restaurar toda a verdade ao mesmo tempo. O remanescente
referido em Apocalipse 2:24-29 são os Valdenses, e outros como eles que se
separaram do mal de “Jezabel” nos
tempos Medievais. Foi dito a eles: “guarda
o que tens” da pequena verdade que tinham. Algum tempo depois, levando à
Reforma, o Senhor permitiu a recuperação de um pouco mais da verdade – como a
supremacia da Bíblia e a fé em Cristo apenas para a salvação. Mas aquele
movimento do Espírito foi impedido pelos Reformadores que recorreram a certos
governos nacionais para ajuda contra as perseguições da Igreja de Roma. Isto
foi equivalente a se utilizar da carne e do mundo por ajuda em vez de confiar
no Senhor (Jr 17:5; Sl 118:8-9; Is 31:1). O resultado foi a formação de grandes
igrejas nacionais na Cristandade, e a morte do protestantismo começou, como
retratada na igreja de Sardes (Ap. 3:1-6).
Não
foi até o início dos anos 1800 que o Senhor permitiu uma total recuperação da
verdade. Isto aconteceu quando os homens se afastaram de toda organização
formal feita pelo homem na Igreja. Isto é retratado na carta do Senhor à igreja
de Filadélfia
(Ap 3:7-13). Naquele tempo, Deus estabeleceu um testemunho coletivo da verdade
de o um corpo. Antes disso, o remanescente havia sido composto por indivíduos
que procuraram seguir fielmente em separação da corrupção da Igreja de Roma.
Estamos agora em dias onde cada um faz o que parece reto aos seus olhos (Jz
21:25), e a maioria é complacente em seu fraco estado. Isto é retratado na
igreja de Laodiceia
(Ap 3:14-22).
A
questão para vermos aqui é que o testemunho Cristão alcançou um ponto
irremediável de ruína, e isto exigiu uma mudança nos caminhos do Senhor para
com ele. Ele abandonou qualquer tentativa de restaurar o estado público da
Igreja como um todo e está trabalhando agora em um testemunho remanescente.
Aqueles reunidos ao nome do Senhor não são exatamente um remanescente.
Corretamente falando, todos os verdadeiros crentes, dentre a massa de meros
professos na Cristandade, são o remanescente, mas, eclesiasticamente, aqueles
reunidos ao nome do Senhor ocupam uma posição
de remanescente no testemunho, e estão onde o remanescente (todos os crentes
verdadeiros) deveria estar, reunido ao nome do Senhor.
Assim
como em Israel, para manter hoje um testemunho remanescente da verdade de o um
corpo, o Senhor não precisa de todo Cristão no mundo reunido ao Seu nome,
apesar de que isso é o Seu desejo
para eles (1 Tm 2:4). Como mencionado, o exato significado da palavra “remanescente” implica que nem todos
estão lá. Em divina prerrogativa e graça, Deus está tomando um aqui e outro
ali, e Ele os está reunindo ao nome do Senhor, para que este testemunho
remanescente possa continuar.
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