Filadélfia
As
cartas do Senhor às sete igrejas na Ásia confirmam o mesmo ponto (Ap 2 e 3). Se
voltarmos às observações do Senhor àquelas igrejas, poderemos ver que há um
terreno eclesiástico – um testemunho coletivo na Terra – o qual Ele aprova. Não
podemos senão pensar que é aí onde o Senhor queria que estivéssemos, e aonde o
Espírito de Deus conduziria crentes exercitados.
Como
mencionado antes, essas cartas apresentam a história profética da Igreja. Cada
assembleia, consecutivamente considerada, representa estágios através dos quais
toda a Igreja passaria na história. É significativo que a vinda do Senhor é
mencionada em cada uma das quatro últimas igrejas, mas não é encontrada nas três
primeiras. Isso indica que o que existiu historicamente nos três primeiros
períodos saiu de cena, mas o que é apresentado nas quatro últimas igrejas
continua até que o Senhor venha. As quatro últimas igrejas são: Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodiceia. Elas apresentam quatro condições existentes hoje no
testemunho público da Igreja.
A
assembleia de “Tiatira”
representa o poderoso sistema que se levantou na Igreja por volta de 580 d.C.
conhecido como catolicismo (Ap 2:18-29). Ele retrata o período em que esse
sistema eclesiástico governou a Igreja e o mundo (na Europa). A palavra Tiatira
significa “sacrifício contínuo” e se
refere à missa católica. “Jezabel” representa
o ensino perverso do catolicismo. Ela chamava a si mesma de “uma profetisa” e assumiu um papel na
Igreja que Deus nunca deu a ela. Ela começou a “ensinar e seduzir” seus súditos com suas doutrinas e práticas
malignas. O sistema católico criou seus dogmas e os forçou na profissão Cristã
e no mundo.
Uma
vez que a vinda do Senhor é mencionada em Suas observações à Tiatira (Ap 2:25),
entendemos que aquilo que esta igreja representa continuará até que Ele venha –
o Arrebatamento. Na verdade, continuará depois do Arrebatamento até a metade do
período de sete anos de tribulação – sob a figura do Mistério, a grande Babilônia
(Ap 17). Este grande sistema eclesiástico é facilmente identificado no mundo
hoje.
A
assembleia em “Sardes”
representa o protestantismo, que começou em 1529 d.C. (Ap 3:1-6). A palavra
“Sardes” quer dizer “aqueles que escapam”
e representa o que aconteceu naquela época. Assim como Jeú no passado foi usado
para quebrar a influência que Jezabel tinha sobre o reino de Israel (2 Rs 9-10),
Deus levantou os reformadores e os usou para quebrar o poder do catolicismo.
Isso permitiu que muitos santos escapassem de suas garras. As duas coisas
principais que os reformadores insistiram foram a supremacia da Bíblia sobre a
Igreja e a salvação apenas por fé.
É
significativo que o Senhor disse a esta assembleia, “não achei as tuas obras perfeitas [completas – TB]”. O que
começou no poder do Espírito tornou-se algo frio, formal, numa ortodoxia[1]
morta. Os reformadores se voltaram ao Estado por proteção contra a perseguição
da igreja de Roma e estabeleceram as grandes igrejas nacionais no protestantismo
que existem até hoje. A assembleia em Sardes representa a condição das coisas
na Cristandade depois que o impulso
da Reforma passou. Descreve no que os reformadores caíram – protestantismo. É
triste dizer, os reformadores saíram do catolicismo, mas, infelizmente, o catolicismo
não saiu inteiramente deles. Assim, as igrejas protestantes têm muito dos
princípios e práticas católicas.
Novamente,
a vinda do Senhor é mencionada em Sardes. É na verdade a Sua Aparição, que
ocorre depois da grande tribulação (Ap 3:3). Isto quer dizer que o protestantismo
continuará até o Arrebatamento, e além dele. A religião do Cristianismo, no que
se refere às práticas exteriores da Igreja, será destruída no meio da semana
profética, mas os professantes sem vida conectados a ela permanecerão para
serem julgados na Aparição de Cristo. Como em Tiatira, o que Sardes representa
no mundo Cristão é também facilmente identificável hoje nas grandes igrejas
nacionais protestantes e igrejas dissidentes que surgiram a partir delas.
A
assembleia em “Filadélfia”
representa o movimento na Igreja que começou em 1827 d.C. (Ap 3:7-13).
“Filadélfia” quer dizer “amor fraternal”
e significa o estado feliz de um testemunho remanescente de crentes que foram
exercitados a retornar aos primeiros princípios em relação à ordem e prática da
assembleia.
Em
cada uma das igrejas anteriores, o Senhor Se descreveu de acordo com uma das
características as quais João viu no capítulo 1. Mas ao dirigir-Se a essa
igreja Ele Se apresenta de modo inteiramente novo; isto significa um novo
início. Até agora, havia um remanescente de crentes fiéis que caminhavam
sozinhos como indivíduos (Ap 2:24-25, 3:4), mas nesse momento, o Senhor trouxe
à existência um testemunho remanescente em sentido coletivo.
O
Senhor Se apresenta a esta igreja de três maneiras. Ao apreendê-Lo nesses carácteres,
três grandes coisas resultaram naquele momento. Em primeiro lugar, o Senhor disse, “o que é Santo, o que é Verdadeiro”. Cristãos exercitados viram o Senhor
em Seu verdadeiro caráter e entenderam que para ter comunhão com Ele, santidade
e verdade eram exigidas deles. Isto os levou por vários exercícios em relação à
separação do mal, e resultou em quebrar todos os jugos desiguais – seculares e
eclesiásticos (2 Tm 2:19-22).
Em
segundo lugar, o Senhor Se
apresenta como tendo “a chave de Davi”.
Esta é uma referência às profecias do Velho Testamento concernentes ao Messias
de Israel (Is 22:22). São profecias conectadas com as promessas feitas a Davi
em relação a Cristo, que sairia de sua descendência para reinar em Seu reino.
Naquele tempo, o Senhor abriu aos santos o entendimento de assuntos proféticos.
Daí resultou um despertar geral e interesse pela profecia na profissão Cristã.
Ao aprender assuntos proféticos, eles descobriram que a Igreja não tinha parte
nas bênçãos terrenais futuras de Israel, mas tinha suas próprias bênçãos
distintas e celestiais. A eles foi dado conhecer a verdadeira natureza e o chamado
da Igreja, bem como seus arranjos práticos para a adoração e ministério
enquanto estivessem na Terra. A completa revelação da verdade Cristã que uma
vez foi dada aos santos (Jd 3) foi recuperada naquele tempo – incluindo a
verdade da vinda do Senhor (o Arrebatamento).
Em
terceiro lugar, o Senhor Se
apresenta a esta igreja como “O que
abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre”. Isto aponta para o fato de
que o que aconteceu naquele tempo foi um movimento da soberania de Deus que
nenhum homem ou o diabo poderia parar. Apreender isto deu a todos aqueles
ligados a este testemunho a coragem de se reunirem para a adoração e ministério
de acordo com a simplicidade das Escrituras, e não havia nenhum homem que
pudesse impedi-lo (compare Atos 28:31).
É
significativo que esta igreja é marcada por ter “pouca força”. Eles tinham o mesmo poder espiritual que a Igreja
primitiva tinha (At 4:33), mas era em “pouca”
porção. Então, este despertar não foi um movimento de larga escala no mundo.
Não tinha um grande status no mundo,
tal como tinha a igreja católica e as igrejas do protestantismo. O guardar a Sua
“Palavra” também marca esta igreja.
Historicamente, aqueles conectados a este movimento eram conhecidos por serem
estudantes das Escrituras (At 17:11). Esta igreja é também conhecida por não
negar Seu “nome”. Eles abandonaram
todos os nomes denominacionais e títulos e estavam felizes de se reunirem
simples e somente ao Seu nome (Mt 18:20).
Eles
são recomendados por guardarem a Palavra da Sua “paciência”, a qual é um aspecto da verdade que tem a ver com a
esperança da vinda do Senhor (v. 10). Guardando-a (não apenas a conhecendo) os
fez estrangeiros celestiais neste mundo. Então, como peregrinos, não se
envolvem em assuntos políticos do mundo. O Senhor prometeu a esta igreja que
Ele viria “sem demora” (v. 11). Isto
se refere à iminência da Sua vinda, a qual estava particularmente diante deles.
O
Senhor avisou aos filadelfienses do perigo de não guardarem o que lhes foi dado
e consequentemente perderem a “coroa”
(v. 11). Um perigo sempre presente ao filadelfiense é renunciar a verdade que
Deus lhe deu. Ora, isto foi exatamente o que aconteceu com alguns que estavam
conectados a este movimento. Eles abriram mão de porções e partes da verdade
recuperada neste período e foram afastados e dispersos em divisões entre irmãos
e nas igrejas denominacionais.
É
significativo que Filadélfia é a única das quatro igrejas que vai até o final e
que o Senhor não encontra nada para julgar. Diferentemente das outras igrejas,
não há uma palavra de condenação dada a eles. Eles não são chamados a se “arrependerem”, como foi o caso com as
outras igrejas, porque já estavam em um estado de arrependimento. Eles sentiram
o estado partido e arruinado da Igreja como um todo e confessaram sua parte em
seu fracasso público (compare Daniel 9; Esdras 9; Neemias 9). Está claro,
portanto, que esse é um testemunho coletivo que o Senhor aprova. É óbvio que
esta é a posição eclesiástica onde o Senhor quer que estejamos.
Uma
vez que o Senhor menciona Sua vinda para aqueles em Filadélfia, sabemos que o
que esta igreja representa continua até o Arrebatamento. Podemos nos regozijar
que exista alguma posição eclesiástica na Cristandade hoje em dia que encontra
aprovação do Senhor. No entanto, já que este testemunho carrega um caráter de
remanescente, não é fácil identificá-lo na Cristandade, como são Tiatira e
Sardes. Isso pode exigir algum exercício e alguma busca para encontrá-lo.
A
assembleia em “Laodiceia”
representa a condição da Igreja que brotou a partir do que teve lugar em
Filadélfia (Ap 3:14-22). Isto se iniciou no final da segunda metade do século
19. O que é descrito em Laodiceia corresponde ao testemunho da Igreja em seus
últimos dias. “Laodiceia” significa
“os direitos do povo” e indica as
ideias democráticas modernas que influenciaram a Igreja nestes últimos dias. A
formação de igrejas independentes, que escolhem seus anciãos e nomeiam seus pastores,
caracteriza esse último período. O resultado é que muitas igrejas ditas “evangélicas”
surgiram na Cristandade.
Laodiceia
descreve uma parte no testemunho Cristão que é caracterizado pela grandeza
autossuficiente que se imagina dotada de riquezas espirituais e poder, mas na
realidade é “um desgraçado, e miserável,
e pobre, e cego, e nu”. Em vez de o Senhor avaliar o estado da assembleia
em Laodiceia, como fez nas igrejas anteriores, os laodicenses O colocaram para
fora da sua porta e assumiram Seu lugar e avaliaram sua própria condição como
sendo ricos e bons! Isto é realmente inacreditável. O estado daqueles em Laodiceia
era “morno” e tão repugnante ao
Senhor que Ele anunciou que estava prestes a “vomitá-los” de Sua boca. Isto ocorrerá em Sua vinda – o
Arrebatamento.
Laodiceianismo
é ter a luz e verdade de Filadélfia, mas sem o seu poder no nosso caminhar. É a
retenção da verdade recuperada nos tempos de Filadélfia (ou de suas partes)
nominal ou intelectualmente, mas sem ter qualquer influência moral sobre a vida
da pessoa. Por exemplo, a maioria dos Cristãos evangélicos acredita na verdade
da vinda do Senhor (o Arrebatamento) a qualquer momento, mas com muitos, isto
tem pouco ou nenhum efeito prático na vida pessoal deles. Como resultado, em
vez de fazer a Igreja mais peregrina em caráter, ela se tornou mais mundana do
que nunca.
Esta
igreja é marcada por uma indiferença grosseira aos apelos de Cristo. É o retrato
de uma igreja sem Cristo, que colocou o Senhor da glória fora de sua porta. É
difícil de acreditar que eles tiveram a audácia de excomungar a Cabeça da
Igreja – pelo menos na prática! Tal é a lamentável condição que marca a Cristandade
moderna nestes últimos dias. Esta é a figura solene com a qual se encerra o
capítulo 3, e com isso, a história da Igreja na Terra.
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Olhando
atentamente o que essas quatro igrejas representam, vemos que há apenas um testemunho coletivo dentre os quatro
que o Senhor aprova. Se Ele tivesse que escolher colocar Seu nome em algum
lugar na Terra, e lá estivesse reunindo Cristãos (Mt 18:20), teria que ser
Filadélfia. Não podemos pensar que o Espírito de Deus conduziria pessoas a
qualquer lugar senão àquele que tem a aprovação do Senhor. O exercício pessoal
de cada Cristão deveria ser o de estar identificado com o que Filadélfia
representa, embora possa ser mantido em muita fraqueza.
As últimas duas igrejas
descrevem partes eclesiásticas na Cristandade, mas também descrevem dois
estados espirituais na Igreja. É possível, portanto, estar conectado à posição eclesiástica de Filadélfia, mas
estar no estado de Laodiceia. O livro
de Malaquias ilustra este ponto. O povo naquela época estava na posição correta (em Jerusalém), mas em uma condição errada (espiritualmente).
Portanto, no momento em que pensamos que somos Filadélfia, provamos que somos Laodiceia.
Verdadeiros Filadelfienses não estão ocupados consigo mesmo e seu testemunho;
eles estão ocupados com o Senhor e tentando agradá-Lo.
[1] N. do T.:
Ortodoxo provém da palavra grega “orthos”
que significa “reto” e “doxa” que
significa “fé”. É o que está em conformidade com a doutrina tida como
verdadeira.
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